Fibroses e Tecidos Cicatriciais: é tudo a mesma coisa?

Definir e diferenciar fibroses de tecidos cicatriciais é essencial para realização da intervenção fisioterapêutica.

Não…

Segundo a literatura atualizada, fibroses são tecidos cicatriciais excessivos, formados por uma quantidade exacerbada de proteínas da matriz extracelular*, principalmente colágeno”.

Fibroses e aderências são características frequentemente presentes em pós-operatórios de diversas cirurgias. Elas são “normais” durante o período de reparo, fazem parte da cicatrização, porém, não devem ser consideradas parte do resultado da final da cirurgia. Podem gerar alterações funcionais, sendo portanto, cabíveis de tratamento fisioterápico.

O que é fibrose?

As fibroses caracterizam-se pela presença de tecido cicatricial excessivo, com conteúdo rico em colágeno (por isso são tão resistentes). Aparecem devido ao processo de cicatrização, levam frequentemente à formação de retrações nos tecidos conjuntivos que poderão limitar a função do indivíduo, pois podem afetar nervos, músculos e até articulações. Por isso é tão importante o tratamento fisioterapêutico preventivo.

Quanto mais longa a presença de fibrose, maior as chances de disfunções neuromioarticulares. A prevenção deve ser o objetivo primário da fisioterapia. A aplicação da Liberação Tecidual Funcional® nos tecidos em cicatrização é utilizada como forma de prevenção, controle da formação de fibroses e também para o tratamento específico. Independente do tempo de instalação do quadro.

No caso específico das cirurgias estéticas, podem impedir os resultados esperados da cirurgia e frustrar tanto o cirurgião como o paciente, principalmente quando o tratamento proposto é baseado em protocolos de uso de equipamentos de estética, onde a síntese de colágeno é provocada pelo estímulo produzido pelos aparelhos. É preciso ter em mente que fibrose é excesso de colágeno, e nenhum tratamento que estimule colágeno é o mais indicado, pois pode retardar e até dificultar sua resolução.

Para o tratamento efetivo, é preciso respeitar as características do tecido cicatricial. A terapia manual atuará modificando a estrutura do colágeno cicatricial, afetando diretamente a orientação e o metabolismo da matriz extracelular. É preciso controlar o ambiente mecanobiológico do tecido para evitar excesso cargas mecânicas intrínsecas* – que ativam um processo chamado de fibrinogênese*, onde o quadro se retroalimenta. Com o tratamento específico, é possível normalizar as cargas mecânicas intrínsecas dos tecidos e com isso, retomar o metabolismo normal e eliminar os excessos – as fibroses.

O que é tecido cicatricial?

Já o tecido cicatricial é um tipo de tecido alterado estruturalmente, que não tem as mesmas características do tecido normal: elasticidade por exemplo…

Diferente da fibrose, ele não é excessivo. É simplesmente um tecido alterado. Este, será sempre diferente, por isso se recomenda evitar cirurgias estéticas diversas, pois por mais que se trate a fibrose, o tecido cicatricial permanecerá. Podemos usar como exemplo, as cicatrizes da pele, que estão perceptíveis aos nossos olhos…Elas podem ser fininhas ou volumosas…Assim é a diferença que ocorre por baixo da pele.

Fibroses – como as cicatrizes volumosas e tecidos cicatriciais – como as cicatrizes fininhas. Estão ali, mas não são excessivos, mas também não são como os tecidos normais.

No dia a dia, a denominação se confunde, muita gente chama o tecido cicatricial de fibrose…

Mas fibrose tem tratamento, podemos tanto prevenir como tratar com manobras manuais específicas, como a LTF® – Liberação Tecidual Funcional.

Já os tecidos cicatriciais…serão para sempre tecidos cicatriciais.

Sempre alterados em sua estrutura.

Por isso não é recomendado que um paciente se submeta a diversas ciurgias plásticas estéticas.

Em cada cirurgia, haverá formação de tecidos cicatriciais…

Portanto: Fibrose tem tratamento!

Com abordagem adequada a fibrose é facilmente reduzida ao tecido cicatricial “normal”.

Você paciente, não arrisque seus resultados com tratamentos inadequados, cuide-se!

Você fisioterapeuta, estude profundamente o processo de reparo tecidual para entender o que são as fibroses e assim poder ofertar aos seus pacientes tratamentos realmente efetivos.

Não é preciso ficar meses tratando pós-operatório. Procure saber! 😉

Um abraço.

Dra Mariane Altomare

Fisioterapeuta


Legenda:

  • Matriz extracelular: Parte dos nossos tecidos, que são compostos por células e uma diversidade de estruturas (entre elas colágeno) denominada matriz extracelular;
  • Forças instrínsecas: São forças mecânicas dos tecidos que participam ativamente nos processos metabólicos por provocarem estímulos nas células;
  • Ambiente mecanobiológico tecidual: é o somatório de forças físicas que estão presentes nos tecidos controlando processos metabólicos;
  • Fibrinogênese: processo de formação de novas fibras, incluindo colágeno.